No júri popular, promotor e defensor duelam na oratória.
O réu, senhor de já alguma idade, matara um vizinho por ter sido chamado de veado.
Numa região em que a figura do cabra macho representa mais do que a fortaleza física e moral do homem do campo, o mencionado insulto - segundo o defensor - ganhara ares insuportáveis para o acusado.
Portanto, teria agido em legítima defesa da honra.
E adiante o defensor, na réplica, segue dizendo que "a região anal do homem deve ser respeitada".
Via de regra, o júri é um teatro em que mais vale a atuação do atores do que o enredo da história. E para se obter uma performance que agrade a plateia de sete jurados, às vezes ocorrem verdadeiros lances de comédia.
Nessa conjunção, o magistrado que preside o júri, já enfadado do lenga-lenga e da verborragia dos debates, se distrai e passa a ler mais detidamente um livro de Direito Penal.
Enquanto isso, o defensor do acusado, muito sagaz e experiente, une os dedos indicador e polegar, formando um círculo, e os mostra aos jurados, dizendo, enquanto balançava o braço para cima e para baixo:
– Isso num homem tem que ser respeitado! No meu aqui ninguém mexe e nem fala mal! E se mexer com ele ou falar mal eu meto a faca!
Indignado, o destemido promotor de justiça brada para o magistrado:
– Doutor! Olha só o que o defensor tá fazendo! Gestos obscenos aqui em pleno júri! Estou pedindo a prisão dele!
O juiz, de sobressalto, tira os olhos do livro que lia e pergunta ao promotor o que o defensor fizera, ao que ele, ingenuamente, repete os gestos obscenos com a mesma ênfase.
O defensor, macaco velho de júri, não perdoa e emenda:
– Agora tá um a um!
Ou o juiz deixa pra lá ou vamos os dois pra delegacia!
E o oficial de justiça e a escrivã vão como testemunhas!... (Sintetizado a partir de um registro do juiz Rosivaldo Toscano Júnior, em seu blog http://www.rosivaldotoscano.com/ )
Fonte: www.espacovital.com.br
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